27/10/2011

Pérolas do Google

 

Tem muito tempo que não faço um post com as buscas mais insólitas do Google e foi difícil selecionar só umas poucas pra colocar aqui. Dá de tudo. Gente que chega a este blog procurando por “ corpos em poço de elevador ”, “ como retrucar um xingamento de chineisinho ”, “ como se escreve a frase beijinho na boca em alemão ”, “ kung-fu catinguento ”, “distorcedor de voz para por na boca para assustar a galera ” ou “ batata chips sabor pepino azedo ”. Gente que acha que o Google é o dono do boteco da esquina e digita coisas como “ que horas sai o onibus 917? ” ou “ onde consigo comprar bottons aqui em salvador? ”. Muito mais gente procurando por “ bolas catinguentas na boca ”, “ crio bolinhas amarelas na garganta,devido a resto de alimentos,oque devo fazer? ” e similares do que seria mentalmente saudável imaginar. 

Aqui vão outras: 

colecao,mundo,animal,sexo,animal,decabo,arabo,egua,cavalo 
“Decabo”, “arabo”. Genial. 

como fazer um porta avioes você mesmo 
Definitivamente, com muito mais paus do que se usa pra fazer uma canoa. 

mequidonalde 
Prefiro queiefissí. 

por que eles fazem errado o chinglish 
O chinglish eles fazem perfeito. O que fazem errado é o english. 

@deathwishes nunca mais vou olhar com os mesmos olhos pra uma garrafinha de água a panela tem o miolo estragado. passa na inspecção? 
Em primeiro lugar, Google não é Twitter. Em segundo lugar... hein?!! 

a relação dos números primos com os gafanhotos 
Se você descobrir, vai ganhar o IgNobel de Matemática. 

eijing fica onde em qual continente 
Atlântida. 

nunca escreva isso e cola em estou com sorte 
Se o estou com sorte tivesse lugar pra copiar e colar, você tava ferrado. 

çomo vive na çhina 
Çei lá. 

como chama o nome da plaquinha com nomes e especies de animais no zoologico 
Er... “plaquinha”? 

filme porno blasileilinha 
Cebolinha, seu tarado! 

achei um gafanhoto verde e amarelo o que eu faço 
Guarda pra 2014 e vende pros turistas gringos. 

minha boca esta fedendo a coco 
Coco fruto do coqueiro, né? Né? Diz que sim, pelo amor de deus. 

filme polar a cerca 
"A Esquimó Safada"? 

gafanhoto e mosquito tem algo em comum sim ou nao 
Talvez. 

grafia de raças de cães em itálico 
Poodle labrador dálmata pastor alemão ... É isso mesmo que cê quer? 

redação pronta imagine que voce presenciou uma cena muito engra\z\ 
Pior que aluno preguiçoso... 

uma frase com 125 caracteres que incentive revendedores 
...é publicitário cara-de-pau. 

canal 5 que esta passando agora 
Você tem que apontar a webcam pra televisão, que aí o Google te responde. 

xexo no fenque 
Xó tem no xou de roquenrou. 

japonesa coreana chinesa inglesa portuguesa francesa italiana africana sexo gratis 
É isso aí, diga não ao preconceito. 

comunidade mulher gostosa e temos dentes podres 
Putz, que sexy. 

monstro fodendo panda 
Mais sexy ainda. 

homen fasendo zexo con porca animal 
Não zerve porca vegetal? 

www.filmes de mulheres trasando como cavalos .com.br 
Você esqueceu o http://. 

O alô desta vez vai para os internautas que tentam, mas não acertam o nome do blog. Se não fosse o Google e o “você quis dizer”... 

blog boca de cafanhoto 
boca de gafonhoto 
boca de gaganhoto 
boca de garfanhoto 
blog cabeca de gafanhoto sobre pequim 
glog gafanhoto 


Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

21/10/2011

Como não fazer um festival de cinema

 

O organizador do festival, um americano, assumiu o microfone e se dirigiu ao público que aguardava diante do telão: 

- E aí, galera. Como já deu a hora e o cara da bilheteria ainda não chegou, vamos começar a passar os filmes e depois a gente cobra o ingresso. 

Deu o play no laptop e apresentou o primeiro curta. Era uma produção sobre alienígenas azuis que caem acidentalmente em Beijing. Ah, e a espaçonave é um vibrador gigante. Efeitos especiais de quinta, atuações duvidosas e o idioma extraterrestre, um mimimimimi agudo traduzido por legendas em inglês e mandarim, completam o pacote. Não chega a ser engraçado, mas vale pela bizarrice. 

Daí, antes de começarem propriamente o programa da noite – o curta da nave peniana era só uma zoeira de abertura – anunciaram no microfone que o moço da bilheteria havia chegado e que infelizmente todos deveriam deixar a sala, comprar o ingresso e entrar novamente. O que se resolveria simplesmente com um sujeito indo de cadeira em cadeira, como faria um trocador de ônibus, virou um rebanho de dezenas formando um fila desencontrada na porta, atrasando a exibição e fazendo fuzuê. 

O nome do evento era Beijing International Movie Festival , que se autoproclama "o mais antigo festival de cinema internacional" da capital chinesa – estão na quinta edição. Pelo visto, longevidade não necessariamente se traduz em competência. Agora há eventos do tipo pipocando aos borbotões: um quase homônimo Beijing International Film Festival, patrocinado e organizado pelo governo, um festival de cinema europeu que rola no início de novembro e o 2o Festival de Cinema Brasileiro, que começa em meados de novembro (brazucas em Beijing, táqui o site oficial). Decidi encarar o International Movie Festival, que seria realizado a uma distância caminhável da minha casa, o que é um alento para esta cidade gigante. Os primeiros dias seriam no Yugong Yishan, um bar/pub/casa de shows transformado em microcinema quando necessário. 

Meia hora depois, ingressos comprados, povo sentado, veio um curta japonês. Chama-se "Script" e mostra um grupo de quatro pessoas em uma sala quase escura que estão ali para um certo "experimento". Ninguém se conhece e nem sabe o que fazer, não há instruções ou esclarecimentos. Sobre a mesa, encontram quatro envelopes de conteúdos diversos, incluindo um cronômetro, algumas fotos reveladoras e um enigmático script de cinema narrando com detalhes cada ação que eles haviam acabado de fazer e cada palavra que pronunciaram segundos atrás. Com direção tensa e roteiro bem amarrado, estava indo muito bem até que puf: o cara do laptop fechou sem querer a janela do player. Ao retomar o filme, não soube encontrar o ponto certo onde a história parou, mesmo com todas aquelas vozes da platéia berrando "é antes, é mais pra trás!". Colocou o filme uns dois ou três minutos depois do ponto onde fora interrompido e virou as costas, e que a audiência se virasse pra entender. Parece aquela hora no "Planeta Terror" do Robert Rodriguez que há um suposto rolo de filme faltando. A diferença é que ali era opção do diretor, e não burrice. 

O resto da exibição, aleluia, transcorreu sem problemas, e a qualidade do material me surpreendeu bastante. Havia um curta dinamarquês sobre bullying, uma mini-comédia francesa sobre um fazendeiro que cria parisienses em sua granja (!) para vender ao mercado chinês (!!), uma história de amor entre um palhaço de rua e uma ex-violinista rechonchuda, e um curta excepcional chamado "Piano Fingers", história de um casal já com décadas de casamento, um passado famoso como cantores de rádio e um futuro pouco promissor obnubilado pelo Alzheimer. 

Voltei ao festival dois dias depois, numa terça preguiçosa, para ver dois longas. Dessa vez a seleção foi bem mais fraca. Havia um filme suíço-canadense, "Neutral Territory", dirigido (mal) pelo mesmo sujeito que intepreta (pior ainda) o protagonista. E em seguida "My Blind Uncle", produção taiwanesa estrelada por um ator que é cego de verdade. Começa bem, mas depois descamba para o melodrama e dana tudo. Além disso, a menina choramingosa que faz a sua sobrinha é uma das criaturinhas mais irritantes que vi ultimamente nos cinemas. 

 
O nome do filme é "Meu Tio Cego". Se fosse "Minha Sobrinha Muda" seria bem melhor. 

Pior do que ver filme ruim foi aguentar a trapalhada da vez da organização: o diretor mandou a cópia errada do DVD, uma versão que tinha a palavra SAMPLE em letras gigantes tampando metade da tela, e os organizadores do festival sequer checaram com antecedência se estava tudo nos trinques. Descobriram o problema junto com o público, quando apertaram play. 

 
Muito agradável de assistir. 

O último dia do festival tinha o nome de "Budgetless Bombs" e prometia um apanhado dos piores filmes já recebidos pelos organizadores. Eu devia ter aprendido a lição e ficado em casa, mas a curiosidade mórbida falou mais alto: a entrada era franca, e se tinham escolhido o curta do dildo espacial como parte dos "bons", a seleção das bombas prometia momentos estrambóticos e divertidos. Dessa vez o local não foi um cineminha improvisado, mas um restaurante com mesas, hambúrgueres e cerveja barata. Como não fecharam o lugar especialmente para o evento, vários clientes estavam ali só pra comer e não faziam idéia de que haveria uma exibição de porcarias audiovisuais dali a pouco. 

De repente soltaram umas imagens sem som, projetadas na parede, de uma mulher que mora no meio do nada e passa o dia pintando soldados e criando cabras. Imaginei que estivessem apenas testando o datashow e que fossem repetir tudo depois. Ligaram o áudio no finalzinho do filme, veio o título – "Kaziah, the Goat Woman" – e os créditos finais, e ficou por isso mesmo. Aí, sem que anunciassem o que viria em seguida ou mesmo explicassem aos desinformados que tinha um evento acontecendo, eles deram início ao filme seguinte, um longa chamado "Heavy Metal Picnic". O áudio estava baixo, os comensais continuaram a tagarelar sem cerimônia e não dava pra entender porra nenhuma. Uma pena, porque parecia até interessante: era um documentário – dos mesmos realizadores de um certo "Heavy Metal Parking Lot" – que contrapunha imagens amadoras feitas em 1985 durante um festival de rock com registros recentes, vinte e cinco anos depois, de vários metaleiros e ex-cabeludos que participaram desse festival, hoje carecas e pais de família. 

 
Very Crazy Jeremiah. 

Ainda haveria a exibição de outras pérolas, mas pra ver daquele jeito, como um CDF na primeira fileira tentando prestar atenção na aula de geografia enquanto a turma do fundão toca o terror na sala, preferia não ver. Na saída aproveitei pra perguntar pro organizador do festival por que é que eles fizeram o troço num restaurante e nem se dignaram a avisar a clientela. E ele: 

- A gente achou que os clientes do restaurante fossem ficar nas mesas lá fora e aqui dentro ficariam só quem veio pra ver os filmes ruins. Mas aí esfriou, e todo mundo veio pra dentro. 

Outubro é outono em Beijing, a temperatura à noite oscila em torno dos 10 graus – todo santo ano – e não raro cai uma neve na segunda quinzena, como aconteceu em 2009. Tem que botar muita fé no aquecimento global pra taxar isso de imprevisto e soltar um "aí esfriou". 

Problemas técnicos acontecem. Filme ruim até que passa. Evento com organizador tapado, aí não tem perdão. 


Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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