29/12/2010

Queima de estoque - fotos sortidas (III)

E lá vamos nós à última leva de fotos avulsas que tirei em Beijing durante 2010.

Bicicletas servem pra tudo na China e às vezes a gente topa com coisas geniais, como essa bike-barraquinha que vem equipada com forninho e botijão de gás. 
 


Vestidinhos para liliputianas? Não: uma inusitada maneira de "vestir" seu estoque de bebidas. Vai saber pra quê. 

  


No supermercado, um exemplo de chinglish sem erros ortográficos, mas que não faz o menor sentido: o que era pra ser "bebidas sem açúcar" virou algo como "que não haja um doce que beba". 

 



E aqui, um exemplo de como o Tiririca escreveria "Barcelona": 
 



Essa é ótima: os dizeres em chinês carregam nas exclamações, mas a frase pedindo que não joguem bitucas de cigarro no chão é relativamente educada. Já a tradução em inglês ganhou nada menos que um "wanker" no começo. Se não sabe o que é, procure no Google que isso aqui é um blog de família. 
 


Dormindo no trabalho: pelo visto, o riquixá motorizado não faz tanto sucesso quanto os modelos antigos. 

 


Essa é uma sobra do post Zapeando a TV chinesa: o gringo está visivelmente desconfortável com esse chapeuzinho vermelho. 

 


Parece que essas manequins inalaram o gás do riso do Coringa: 

  



Será que um dia Walt Disney imaginou que o Pato Donald viraria comunista? 
 


Minhas aventuras gastronômicas com insetos, por enquanto, só ficaram no gafanhoto. Mas a lista de possibilidades é enorme: bichos-da-seda (dizem que parece castanha), escorpiões escabrosamente pretos, aranhas cabeludas (vindas dos EUA, segundo o vendedor) e até lagartos. 
 

Pra quem chega na China e acha os "buracos" no chão do banheiro a coisa mais esquisita e desconfortável do mundo, aqui está uma solução genial: tampa de privada portátil! 
 

27/12/2010

Chinês pra você fingir que sabe - Parte final

Para ouvir a pronúncia, clique na palavra e, na página que se abrirá, no botão  . Preste atenção à “melodia” da fala: um tom errado em chinês pode levar a significados completamente diferentes, do tipo confundir "está chovendo" com "estão caindo peixes". 



傻屄 [shǎbī] 

Já dei a dica aqui de como insultar alguém em chinês, simplesmente chamando-o de “ seu duzentos e cinqüenta! ”, que misteriosamente significa “ seu imbecil! ”. Mas agora chegou a vez de um palavrão cabeludo de verdade. Não digam que fui eu quem ensinei, mas pra xingar em chinês com propriedade, diga: “ shǎbī! ”. A tradução literal, colocando assim em termos técnicos, seria “vagina mentalmente desfavorecida”. Equivale ao nosso “ filho da p&%@ ” e é exaustivamente utilizado nos estádios de futebol.

E ainda vem com bônus: se você disser “ shǎbī ” várias vezes, em seqüência, consegue xingar em chinês e português ao mesmo tempo. Experimente!


E tem muito mais de onde saiu esse! 

什么? [shénme?] - o quê? 

Pronuncia-se “ chãmâ?! ”. É interessante arregalar os olhos e levantar a sobrancelha, pra dar ênfase. Nas minhas primeiras semanas de China, era uma expressão recorrente, já que eu não entendia patavina do que me falavam e só podia retrucar: “ shénme?! ”. Cogitamos até fazer uma camisa com os caracteres 什么 na frente e um imenso ponto de interrogação nas costas, mas a idéia não vingou. Se você ouvir alguma coisa em chinês e não entender bulhufas, ou perceber que alguém te chamou de “ shǎbī ”, não hesite e mande um “ shénme?!! ”. 



听不懂 [tīngbudǒng] – não entendi 

Literalmente, “escutei mas não entendi”. Pronuncie o “ti” do começo como “ tea ” em inglês, e engula o “g” do final. E não se esqueça da cara de pateta. 



喂 [wèi] – alô 

É engraçado como diferentes povos atendem de diferentes formas ao telefone. Os italianos declaram: “pronto!”, os espanhóis demandam “¡diga!”, os portugueses perguntam: “está?”. E teve uma época negra em que os brasileiros não diziam “alô”, diziam “Alô Cristina” ou “A Usurpadora”. 

Já os chineses atendem com “wèi”, que significa pura e simplesmente “alô”, e é dito caprichando nos Es: “ weeeeeeeei ”. Se você ligar do Brasil e ouvir um “wèi” como resposta, te prepara que a conta vai ser o olho da cara. 

 
"Weeeei! O Wang tá aí?" 



糟糕 [zāogāo] – que azar! 

Essa é uma das minhas preferidas. “ Zāogāo ” é a exclamação perfeita para os momentos de azar. Literalmente significa “desperdiçar bolo”, no sentido de que deixar seu pedaço de bolo cair no chão é um azar da muléstia. Pronuncia-se “ dzau gau! ”. Com sarcasmo funciona ainda melhor, equivalendo à sádica “ cada um com seus problemas ”. Fez chapinha no cabelo e pegou chuva? Escorregou na lama e ferrou o joelho? A torrada caiu com a manteiga virada pra baixo? Só lhe resta exclamar: “ zāogāo! ” 

23/12/2010

Vende-se cocô gelado

Imagine um restaurante temático que extrapole os limites do mau-gosto. Pensou em quê? Filmes de terror? Vá mais longe. Freak show? Zumbis? Mais um pouquinho. "Pior que isso, só se descambar pra escatologia", você deve estar pensando.

Pois é. Em Beijing existe um restaurante temático de cocô. Da decoração ao formato do cardápio, passando pelo nome dos pratos, os assentos e os mascotes sorridentes pintados nas paredes, tudo é relacionado a fezes. Vai saber que tipo de cérebro bola uma coisa dessas. Mas, como pude constatar, fizeram o dever de casa direitinho, transformando o estabelecimento num bizarríssimo ponto turístico e proporcionando uma legítima experiência gastro-intestinal (literalmente) a quem se atreve a comer por lá.

E antes que perguntem: o lugar não fede a banheiro. Nem a desodorizador de ar com cheirinho de lavanda.

A plaquinha na porta já dá um gostinho do que vem por aí: "Toilet Special Restaurant".


Na entrada, uma privada com um desenho enfezado (pegou? pegou?) saúda os clientes.


Pra comer, obviamente, tem que sentar no trono. Mais estranho ainda: as tampas são felpudas e decoradas com bichinhos fofinhos, do Snoopy...


ao Mickey e o Ursinho Puff (que no original é "Winnie the Pooh", quase "poo", a palavra em inglês para "cocô". Mera coincidência?)
 

Abertas, elas são privadas comuns. Se der revertério, já sabe...


Algumas mesas emulam pias, com torneira e tudo.


Nas paredes, excrementinhos de todos os tipos. O casal Mr. e Mrs. Hankey tomando café...


...um cocozinho guerreiro...


...um cocô de vidro no teto (com mosquinha rondando)...


  ...fezes de pelúcia com sorriso no rosto...


...e, se Charles Chaplin popularizou o chapéu-coco, este deplorável bonecão inaugura a moda do chapéu-cocô.


Tem relógio com paninho bordado (destaque para o "smells good!")...


...e outro doidão pintado na parede, com cinco ponteiros e bostinhas simbolizando os 12 signos do zodíaco: tem cocô-leão, cocôs-gêmeos, cocô-escorpião e até uma cocozinha fêmea com flor na cabeça, que pela ordem é o signo de virgem.


Tem cocô segurando o roupão...


...cocô inflável ("fresco mesmo"!)...


...e o famoso "tô c*g*ndo colorido".


Se quiser, você pode colar seu recadinho num mini-mictório. Marcel Duchamp aprovaria.


 Essa galera de calça arriada me lembrou o infame gran finale do trem-fantasma do Parque Guanabara.


O cardápio não poderia ter outro formato senão este:


Escolhi meu prato pelo nome. "Poo Funny Mud", ou "Barro Engraçado de Cocô". É simplesmente um purê de batata, que vem em formato fecal, servido num recipiente bem adequado e com um asqueroso caldinho no final. O purê estava meio insosso e esfriou rápido. Dá pra dizer que a qualidade faz jus ao tema do restaurante.


O bife ao curry veio transbordando numa tigela especial: um privadão preto e reluzente.


Até as canecas vêm na forma de excrementos. Parafraseando o Coringa, onde eles arranjam esses brinquedos?


Pra completar a refeição, um sorvetinho. Sabe quando vendedores de água de coco colocam um acento circunflexo no lugar errado e escrevem "vende-se cocô gelado"? Aí está o próprio.


No banheiro do restaurante, uma contradição inusitada: não há privada. O vaso sanitário faz as vezes de pia, enquanto as necessidades são feitas no tradicional "buraco no chão" chinês.


Nem o bom velhinho escapou da escatologia. E é com essa imagem que desejo a vocês um feliz Natal e uma próspera visita ao banheiro após a ceia!
 

20/12/2010

Crônicas de um estudante de chinês - the next generation

Previously on Boca de Gafanhoto... 
Depois de 1 ano estudando chinês todos os dias na mesma universidade , Lucas decidiu que era hora de mudar de ares. Seguindo a recomendação dos amigos, ele migrou para uma escola particular em Wudaokou 

Terceira temporada – Diqiucun, julho a dezembro/2010 

O esquema da escola Diqiucun – ou Global Village, ou Aldeia Global, como queira – é assim: aulas de conversação, todos os dias, por 90 minutos. Na prática, não é tão diferente das aulas que tive na BLCU: você tem um livro, aprende novos ideogramas a cada lição, escreve ditado, recita os diálogos do texto e tudo mais. O maior diferencial é o tamanho reduzido das turmas, que permite que todos ouçam, sejam ouvidos e, como diria minha avó, destronquem a língua.

Sentamos ao redor de uma mesa, com a professora na ponta comandando a massa. A rotatividade dos alunos é alta. Nesses 5 meses que estudei na Diqiucun, pelo menos 30 pessoas já passaram pela turma, mesmo que o total nunca ultrapasse oito ou nove. Como é uma escola privada e não uma universidade, é muito fácil trocar de classe. Muitos chegam, assistem a uma aula, acham muito difícil ou muito fácil e não voltam nunca mais.

 
Estudantes felizes no site da Diqiucun : é tanto aluno da Coréia que o site é só em coreano. 

Entre meus colegas que já foram embora, incluem-se um japonês de uns 70 anos, um suíço-tibetano (sim, essa mistura existe) e um mexicano que era a cara do Tobey Maguire nos filmes do Homem-Aranha: cabelinho, oclinhos, tudo. Também havia uma coreana de 13 anos, a colega de sala mais nova que já tive depois do ginásio. Ela já estudava chinês há algum tempo e lia os textos com uma fluência quase robótica, sem errar um caractere, mas sem esboçar nenhuma emoção. 

Minha última turma na Diqiuncun apresentava basicamente asiáticos, mas de várias regiões. Tinha um russo alto do extremo leste, que parecia vilão do James Bond nos tempos da Guerra Fria; um indiano com jeitão de George Costanza; e um coreano que usava os dedos para enfatizar os tons das palavras, como se regesse uma orquestra invisível. 

Se minha sala passada na BLCU contava com um panamenho pé-no-saco, o mala da vez foi um coreano de meia-idade. Toda vez que abria a boca, falava por 10 minutos e não deixava a aula fluir. Ele fazia sempre questão de reafirmar sua juventude e detestava quando os colegas o tratavam de forma respeitosa, porque “é a mesma coisa de me chamar de velho” . E ainda dava um jeito de encaixar mulher em todas as frases, não importando o assunto em pauta. Se o texto da lição era sobre o verão, ele falava de mulheres bonitas tomando sol. Se era sobre TV, ele dizia que havia muitas mulheres bonitas trabalhando na televisão. Se eu mencionava o Brasil, então, era batata: “Carnaval! Praia! Mulheres bonitas!” 

O legal dessas aulas com gente do mundo todo é perceber as diferenças culturais nas pequenas coisas. Uma vez, por exemplo, descobri vários equivalentes à expressão “Você fumou maconha estragada?” , que usamos para insinuar que o interlocutor está maluco. Na China, dizem “Você tomou remédio errado?” . No México, “Você comeu cogumelo estragado?”. Na Coréia, “Você tomou veneno de rato?” 

Também tivemos uma aula rápida sobre onomatopéias. Por incrível que pareça, existe um caractere chinês representando cada som, de latidos de cachorro (汪汪, “wang wang”) até o som de uma avalanche (咕噜噜, “gu lu lu”). A água não faz chuááá, mas “hua la la”; o trem não faz piuííí, mas wuuuuu; e os fogos de artifício são descritos por uma burlesca seqüência de “pilipalá, pilipalá!”. 

Começamos a comparar como representávamos esses sons em nossos idiomas, e o coreano mala se empolgou. Começou a bater asas e imitar um galo com sotaque coreano: “Kó-kori-óóóó, kó-kori-óóóó!” . Se tinha uma cena que eu nunca imaginara presenciar, era um coreano de meia-idade cacarejando. 



Bônus extra – A última aula de inglês 

Já falei aqui aqui sobre minha experiência como professor de inglês para adolescentes chineses. Volto ao assunto uma última vez, porque esse capítulo está oficialmente encerrado. Minha primeira aula com uma nova turma foi também a derradeira, já que o americano que ali lecionava anteriormente voltou a ocupar a vaga. Não que eu tenha ficado chateado: dar aulas nunca foi meu forte, ainda mais para capetinhas de 12 anos que estão interessados em tudo, menos em aprender inglês por 3 horas seguidas num horário tão ingrato (sexta-feira, das 17h30 às 20h30). 

Comecei a aula com uma bola fora. Olhei a sala de relance e a primeira coisa que disse foi: “Puxa, como tem menino nessa sala. Vinte alunos e só três meninas!” . Nisso uma garota de cabelo curtinho, quietinha no canto, levantou o dedo e me corrigiu: “São quatro meninas, professor.” 

Depois começamos as apresentações: qual o seu nome, sua idade, o que você gosta de fazer. Cada aluno tem seu nome em inglês, escolhidos por motivos totalmente aleatórios. Cheguei a batizar um deles: 

Ele: “Professor, não tenho nome em inglês.” 
Eu: “Hm, tudo bem. O que você gosta de fazer?” 
Ele: “Gosto de computador.” 
Eu: “Então você vai ser Bill, que nem o Bill Gates. Que tal?” (não me xinguem, tive que pensar rápido.) 

E teve o chinesinho que se levantou meio envergonhado e, entre as risadinhas dos colegas, se apresentou: 

- Professor, meu nome é Obama. 


Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

16/12/2010

Crônicas de um estudante de chinês

Previously on Boca de Gafanhoto... 
Sem entender bulhufas de chinês, Lucas vai para a China e cai numa aula onde os professores só falam a língua local.Alguns meses depois , aquele falatório incompreensível passa a fazer algum sentido, e ele já é capaz de pedir comida em restaurantes e escrever uma redação sobre seu fim-de-semana. Mas a odisséia para aprender esse idioma insano está longe de terminar... 

Segunda temporada – BLCU, março a julho/2010 

Em março de 2010, comecei um novo semestre na BLCU (Beijing Language and Culture University). Eu não morava mais num dormitório dentro do campus nem tinha tantos amigos que estudariam lá novamente, mas continuar o aprendizado na mesma universidade pareceu a opção mais lógica.

Os níveis da BLCU vão de A até F. “A” de Analfabeto, pra quem é um Tiririca em mandarim e precisa começar do zero. “F” de Foda, pra quem já se expressa num chinês invejável. Depois de completar o nível Analfa, em janeiro, fiz uma nova prova e me puseram numa classe com nome de vitamina, B12.

 
Aula multi-cultural: como se escreve "chá" em chinês, inglês, português, japonês, coreano, tailandês e espanhol. 

Ao contrário da turma anterior, que oferecia um apanhado geral dos povos do mundo (tinha francês, israelense, americano, cazaque, indiano, indonésio...), a maioria dos meus novos colegas eram coreanos. Minha interação com a classe acabou caindo um pouco, por uma simples questão de comunicação: geralmente eles conseguem ler e entender inglês, mas não o bastante para manter uma conversa longa ou improvisar uma piada. Conversávamos em mandarim, aos trancos e barrancos, e saímos todos juntos uma única vez, para um karaokê, óbvio – mas eu desconhecia os hits coreanos que faziam a cabeça da moçada. 

Também havia um pessoal legal de outros países, com quem eu proseava mais: um espanhol de dois metros de altura, um americano de Virginia, um australiano nascido na Inglaterra. Em compensação, tínhamos na sala um panamenho muito mala, que adorava dar sua opinião sobre o que não era perguntado. 

Panamenho mala: “O que você vai fazer no feriado?” 
Eu: “Vou pra Mongólia Interior.” 
Panamenho mala: “Putz, que escolha péssima, lá faz muito frio nessa época, credo.” (ele acabaria viajando à mesma Mongólia Interior no mesmíssimo feriado) 

O panamenho era tão mala que, em dia de provas, não arredava o pé da sala até que a professora corrigisse todas elas, e depois saía espalhando as notas de cada um. 

 
A sala B12, após a aula. 

Nossa professora também não era o melhor exemplo de bom comportamento. Tinha 28 anos e mentalidade de 14. Ela lecionava duas disciplinas: “Compreensão” (a aula principal, que engloba gramática, leitura e conversação) e “Chinês Prático”, uma aula semanal com temas mais ligados à vida cotidiana. Íamos pra frente da turma falar sobre algum assunto – uma comida típica do seu país, um filme que você gosta – e a professora se sentava pra assistir. Não raro ela ficava no fundão conversando borracha com as alunas coreanas, sem prestar atenção ao pobre estudante que gastava saliva lá na frente. 

Ela também gostava de tirar sarro dos alunos, com predileção especial por um gordinho da Indonésia de apenas 16 anos. Dava risadinhas quando ele falava e às vezes debochava de seu tamanho levemente avantajado: 

Indonésio: “Eu moro com dois primos mais velhos, e ocupo o quarto menor.” 
Professora: “Menor? Você tinha que ocupar o maior! Hihihihi” 

 
Foto da classe no jantar de final de semestre: a professora é a que está sentada no meio; na extrema direita, o gordinho da Indonésia.

O quadro de professores contava ainda com mais dois. Um era um cara bacana, mas que pouco podia fazer pra tornar sua aula menos maçante. A matéria era “Escuta”, e ele tinha que botar aquela infeliz fita cassete pra que ouvíssemos diálogos ininteligíveis e respondêssemos às perguntas. Era todo mundo com cara de “hein?” por duas horas seguidas. 

A outra era a “Nainai Laoshi”, que em chinês quer dizer “Professora Vovó” e era o apelido pouco carinhoso que ganhou de seus discípulos – não que ela soubesse disso, claro. A Vovó conseguia a proeza de tornar uma aula que tinha tudo pra ser ótima, “Conversação”, num tédio hediondo. Ao invés de conversarmos, ficávamos repetindo trechos enfadonhos do livro-texto. Acho que ela dá essa aula há cinqüenta anos e não está muito disposta a se atualizar. No final do semestre ela até pôs a gente pra falar um pouco mais e, num dia especialmente memorável, chegou a sorrir. Mas já era tarde demais. 

Preferi o meu primeiro semestre na BLCU do que o segundo. Talvez eu estivesse cansado das quatro horas por dia com o mesmo método, ou os novos livros embrenhassem por assuntos pouco atraentes (fábulas chinesas? formulários de inscrição?). Quando decidi permanecer na China e continuar os estudos, segui a recomendação de vários amigos, também egressos da BLCU, e migrei para uma escola particular. 

No próximo episódio: colegas que vão um dia e não voltam nunca mais, um mexicano sósia do Homem-Aranha e o dia em que o coreano de meia-idade cacarejou. Segunda-feira, no Boca de Gafanhoto. 


Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

13/12/2010

Queima de estoque - fotos sortidas (II)

Continuando a série "queima de estoque", publico mais uma leva de fotos avulsas tiradas em Beijing ao longo de 2010. Vamos lá:

Olha quem eu achei atrás de um balcão de uma mercearia: Rrrrrrrrrrrronaldo! 
 


Enquanto isso, seu xará do sul ganhou as páginas de um livro de "expressões populares chinesas". Não sei o que é mais inusitado, ter o Ronaldinho Gaúcho num dicionário chinês, ou a frase que arrumaram como exemplo: 

 


Não é porque os chineses não são bons de bola que eles não curtem uma pelada com os amigos. O negócio é sério e costumam até comprar uniformes oficiais pro time todo. Nesta partida, um time vestia os trajes da Argentina, e o outro usava uniformes cor-de-rosa (!)... 

 


...enquanto esse jogo foi entre um time com uniforme da Alemanha e outro da Disney (!!). 

 


O Bar de 12 Metros Quadrados, que se orgulhava de ser o menor de Beijing, até que fizeram um puxadinho e agora têm quase o triplo disso. É a ganância estragando uma boa idéia... 

 


Um outro bar resolveu colocar tendas mongóis (os famosos 
yurts ) para os clientes. Achei um barato: 
 

 

Símbolos de banheiro que encontrei numa boate. Simples, funcionais e criativos: 
    

Um carrinho pra turistas bem estiloso. 

 


O pior de ser um guerreiro de terracota é que o povo te sacaneia e você não pode nem revidar. 

 


A mesa do meu jantar de final de semestre na universidade, em julho, estava assim: um prato amontoado em cima do outro, literalmente. 

 

Os casais chineses costumam fazer as fotos de casamento antes mesmo da cerimônia, pra poder mostrar o álbum durante a festa. Esse aqui fazia suas poses em plena Grande Muralha: 
 

Abibas: ortography is nothing. 
 

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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