28/03/2010

Um punhado de fotos avulsas

O título já diz tudo. Vamos a elas: 

 

Esse hospital de animais não tem restrições: cuida de pássaros, coelhos, gatos, cachorros, iguanas (!!)... e o que é aquilo ali, um furão? Uma doninha? 

 

"Entendendo chinglish", lição de hoje: para muitos chineses, a letra L minúscula e o número 1 são a mesma coisa. Esses "Dump 1 ings", por exemplo, são os prosaicos dumplings (ou jiaozi), pasteizinhos recheados de carne e vegetais que você passa no vinagre e come. Uma de1ícia. 

 

Não é só no Chaves que os churros fazem sucesso. Olha aí a chinesada se engalfinhando pra garantir o seu. 

 

Quem tá a fim de comprar um crânio de cabra? 

 

Não contem pra mulher de Lego, mas acho que ela tá perdendo cabelo. 

 

Tá entendendo?! Não é pra cuspir em lugar nenhum, porra!! 

 

Entrei numa loja de DVDs em Chaoyang e o vendedor tava assim, não apenas tirando uma soneca no meio do expediente como também roncando alto. 

 

E essa turminha aí, dormindo com colchão e tudo no supermercado aqui perto? 

 

Ouvi dizer que a loja ao lado vai se chamar Gaagle. 

21/03/2010

Sobre a tempestade de areia

(Respondendo um comentário de Bernardo, o Silvino, no post anterior.)

Quando acordei na manhã de sábado, a primeira coisa que o coreano que mora comigo disse foi:

- Você acabou de perder uma coisa muito bizarra.

E contou que, da nossa janela do décimo segundo andar, tudo que dava pra ver é que a cidade estava amarela. Só depois é que fui ler nos jornais ( China Daily BBC G1 ) que uma tempestade de areia atingiu a China, vinda provavelmente dos desertos da Mongólia Interior, província no extremo norte do país.

Mas eu não vi nada, porque estava dormindo. E prudentemente pedi comida no almoço e no jantar, evitando a poluição nível 5 na qual Beijing se encontrava - sei lá até que nível vai, mas 5 não deve ser coisa boa. No sábado mesmo a cidade já tinha voltado à sua cor "normal", mas tenho relatos de gente que saiu na rua hoje, um dia depois, e sentiu gosto de areia na boca.

 
Não digam xis, senão entra areia na boca! (Foto: Xinhua) 

18/03/2010

Causos rápidos

 

Minha professora anda me chamando de Kasilu. "Ô Kasilu, lê a próxima frase". "Kasilu, responde essa". Depois é que fui entender o "apelido": como na China todo mundo ganha um nome no idioma local, o meu "Lucas" virou "Lukasi". Só que, para os chineses, a primeira sílaba é o sobrenome (sim, Mao era o último nome de Mao Tsé-Tung). Ela deve ter achado que estava "ocidentalizando" meu nome ao me chamar de Kasilu... 

*** 

Então estava eu na cantina da universidade, almoçando com um carioca, um belga, um nigeriano e um italiano. O italiano, que da mesa só conhecia o belga, saiu pra ir ao banheiro. A comida chegou - boi, frango, vegetais, mais um potinho de arroz pra cada - e o nigeriano disse: "Eu gostaria de rezar antes da refeição, como sempre faço". Ficamos em silêncio, claro, enquanto ele se apoiava na mesa e orava em voz alta e de cabeça baixa. Nisso o italiano volta do banheiro, olha a cena e lasca: "Quê isso, tá conversando com o arroz?" 

*** 

E umas semanas atrás, que fui fazer um frila de locutor para um videozinho da HP? O serviço é bem comum por aqui, e eles pagam estrangeiros pra lerem algumas frases simples em sua língua materna. Ao final, a chinesa que me contratou perguntou: 

- So, which country are you from in Brazilian? 

07/03/2010

No dark sarcasm in the classroom!

 

Percebendo que o exercício do livro não empolgava muito e as conversas paralelas continuavam, decido que é hora de usar a arma secreta. Quando tiro o violão da sacola, instantaneamente se calam. Começo a cantar: 

- "I've got sunshine... on a cloooudy day..." 

Algumas meninas gravam vídeos com seus celulares e até a turminha que passou a aula batendo papo e desenhando agora presta atenção. No final, depois que aplaudem, um aluno me pergunta: 

- Professor, de onde você é? 
- Da América – é minha resposta, um tanto vaga. Ele parece satisfeito e eu não estico o assunto, voltando à música e explicando verso por verso porque o sujeito da música tem o sol raiando mesmo em dias nublados. 

Pois é. Não apenas virei professor de inglês para adolescentes chineses, como tenho que esconder minha nacionalidade, porque a meninada espera um falante nativo. "América" é uma solução razoável: nem chega a ser uma falácia, só omiti o “do Sul”. Mas tudo bem: na minha entrevista, perguntei ao diretor qual era a nacionalidade do professor anterior e ele disse: "francês". 

Ao entrar na sala, cumprimento o grupo de quinze meninos e meninas, me apresento como "Luke" e peço que me digam seus nomes, suas idades e o que gostam de fazer. Assim como na minha aula de chinês eu sou “Lúkǎsī ”, aqui todos têm nomes anglicanizados. E já devem ter feito essa apresentaçãozinha inúmeras vezes, porque as respostas são todas mecânicas: 

- Olá, professor, prazer em conhecê-lo. Meu nome é William, eu tenho doze anos e gosto de jogar basquete e jogos de computador. 

Ou: 

- Olá, meu nome é Victoria, eu tenho treze anos e gosto de navegar na internet e jogar badminton. Minha matéria preferida é matemática, meus colegas não gostam muito porque dizem que é chato, mas eu acho muito interessante. 

Peço para que abram o livro na página 53, se juntem em duplas e discutam o primeiro exercício. O livro-texto – “Green Channel”, Book 2 – é que nem qualquer livro-texto de inglês que a gente vê no Brasil, cheio dos velhos diálogos de sempre, educados e irreais, e sugestões de assuntos para a turma discutir. Sugeri a uma dupla o tópico “qual personalidade você gostaria de conhecer?”. Um escolheu Michael Jackson, o outro disse Mickey Mouse. 

O curioso é que, mesmo sendo todo em inglês e usando como exemplos pessoas e lugares da Inglaterra, o livro foi feito por uma editora de Shanghai, e vez ou outra a gente se depara com um lampejo da cultura local. Um exercício da unidade 1, por exemplo, listava diversos tipos de comida: “barbecue”, “cheese”, “roasted beef” e... “snake soup”. Diliça! 

No intervalo – vinte minutos no meio de uma longa aula de três horas –, enquanto janto uma comida de bandejão composta de arroz grudento e um punhado de jiǎozi, converso com o professor da turma ao lado, um australiano que logo me perguntou: 

- Eles são barulhentos, não são? 

- Muito mais que eu esperava – respondi. 

É verdade. Você vai achando que na Ásia o povo é mais organizado, us pequeno bedece us grande... Cousa nenhuma. Treze anos é treze anos em qualquer lugar e a sétima série deles traz as mesmas figurinhas carimbadas que a nossa: a menina calada e aplicada da terceira fileira, os garotos que não param de rir e conversar, as meninas que não só conversam como se olham no espelho e mexem no celular. 

Às oito e meia da noite o sinal toca, os alunos se despedem com seus “Goodbye, teacher” rumo a um fim-de-semana de esportes e joguinhos de computador, e eu volto pra casa pensando na minha merecida cerveja e na música que vou tocar sexta que vem. Quem sabe não encontro talentos escondidos na classe e sigo os passos de Jack Black numa versão oriental da Escola de Rock 

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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