28/06/2009

Recordação de um passado presente, ou ou

4a Mostra de Cinema de Ouro Preto
Parte I



Morando em Beagá desde que vim ao mundo na Maternidade Octaviano Neves há boas duas décadas e meia, Ouro Preto deveria ser o meu quintal, o que não vinha sendo o caso nos últimos anos. Visitei a cidade muito na infância, incluindo as indefectíveis excursões de quarta série, mas de cinco anos pra cá só me lembro de duas passagens breves pela cidade, um almoço em 2004 e uma esticada a partir de Cachoeira do Campo em 2005.

Este mês tirei o atraso: foram três visitas em três semanas. A primeira, depois do Festival da Vida em Mariana. Almoçamos em um self-service na Rua Direita e demos uma passada na Calamidade Pública, república que recém-completou 11 anos de vida com uma obra de engenharia ímpar em suas imediações: uma caixa d'água só para encher de vodka com suco em pó, ligada a vários canos que deságuam em cinco torneiras no quintal. E você pensando que seu filhinho tava em Ouro Preto pra estudar.

A segunda e mais extensa ida a Villa Rica deu-se pela Quarta Mostra de Cinema de Ouro Preto, doravante abreviada pelo seu nome de guerra, CineOP. Já tinha ido em janeiro na Mostra de Tiradentes (sobre a qual teci algumas palavras no Cinema de Buteco), mas cometi na ocasião um erro primário: perdi o prazo para me inscrever nas oficinas. Desta vez, não quis ser burro reincidente e, tão logo abriram as inscrições, pus meu nome na lista da oficina de Realização em Curta Documental, ministrada pelo cineasta Luiz Carlos Lacerda. A proposta: "Instrumentalizar os participantes para a realização de um documentário, com a composição de uma equipe nos moldes de uma produção profissional, ocupando funções técnicas (produção, pesquisa, câmera e fotografia, som) e artísticas (direção, direção de arte, direção musical e edição)." Resumindo: pôr a mão na massa e produzir em 4 dias um documentário que seria exibido no encerramento da CineOP.

Zarpei pra Ouro Preto na quinta à noite e instalei-me no albergue O Sorriso do Lagarto, onde permaneci até segunda. Com isso, peguei praticamente a Mostra inteira - diferente de Tiradentes, a programação da CineOP é mais enxuta e dura apenas cinco dias. O pessoal da produção é o mesmo, e a estrutura é bem semelhante:

Cine-Praça - montado na Praça Tiradentes, com som excelente e imagem nem tanto, e o frio pegando. Pelo menos o céu azul era constante, evitando sessões canceladas como em Tiradentes.

Cine Vila Rica - cinemão tradicional da cidade, grande e bem inclinado. Lá exibiram muitos dos longas dos anos 70, tema da Mostra, como "Xica da Silva" e "A Ilha dos Prazeres Proibidos".

Cine-Teatro - teatro transformado em cinema para a exibição de alguns curtas. Ficava no Centro de Convenções, lá embaixão perto da Ferroviária, onde também aconteciam as oficinas e os shows noturnos pós-última-sessão.

Dessa vez vi bem menos filmes do que em Tiradentes. Lá foram 4 longas e mais de 30 curtas; aqui foram 14 curtas e 2 longas pela metade (dormi em "Xica da Silva", apesar de estar gostando bastante, e saí no meio de "Roberto Carlos a 300 km por hora" pra poder assistir ao Rendez-Vouz du Sam'di Soir, sobre o qual falarei mais tarde). Dos curtas, os que mais me apeteceram foram a animação Terra (Sávio Leite, MG) e as ficções Nas Duas Almas (Vebis Junior, SP) e Teresa (Paula Szutan e Renata Terra, SP). Os outros em geral são bem filmados, mas entregam-se a vícios que tenho observado na produção nacional recente - quem já assistiu ao vídeo Como Fazer Um Curta-Metragem Experimental, Cult e Pseudo-Intelectual vai me entender. E de inovadores acabam tendo pouco, porque se você vê coisas como Entr'Acte, de René Clair, que passou no Cine Vila Rica, percebe que em 1924 já faziam cinema experimental, e muito melhor.

No próximo post, os detalhes da produção - e o link para vocês assistirem - de "Oui Uai", o documentário que produzimos durante a quarta CineOP.

10/06/2009

Não importa a feira



Quando um feriado interrompe o curso natural da semana, como acontece na próxima quinta-feira por ocasião do Corpus Christi, toda a estrutura da folhinha muda, e os dias nunca parecem ser o que são. Esta semana, por exemplo, temos uma seqüência mais ou menos assim:

Segunda-quinta-sexta-sábado-quinta-sábado-domingo

Segunda é sempre segunda, não dá pra escapar. (E sem gracinhas: a semana começa na segunda sim, assim como o dia começa de manhã, não à meia-noite.) Mas a presença de um feriado na quinta-feira afeta retroativamente a terça e a quarta, deixando-as com gosto de quinta e sexta. A quinta, feriado, vira uma surpresa agradável, um sabadão fora de hora, despretensioso e antecipado. Mas a sexta que vem depois - exceto para os desocupados que a enforcam, o que muda tudo - é um dia híbrido: não cheira a segunda e tampouco é uma sexta legítima, porque não veio precedido de quatro dias de intensa e enfastiante labuta. No fundo, é uma quinta-feira disfarçada, que pede uma cerveja, mas não implora de joelhos.

Quando o feriado cai na sexta ou na segunda, a história é outra. O fim-de-semana fagocita o feriado mais próximo, deixa-o à sua imagem e semelhança: feriado na sexta significa sábado-sábado-domingo; se é na segunda, temos um sábado-domingo-domingo. Dificilmente a segunda-feriado tem o mesmo sabor de uma sexta livre, de mãos dadas com um sábado. Um dia com cara de sábado depois de outro com cara de domingo é um evento cósmico raro, só acontece em circustâncias especiais (se o seu aniversário cai numa segunda-feriado, ou se tem jogo da Copa às 11 da manhã e o chefe resolveu liberar a galera o dia todo, ou se você é deputado).

O poder destrutivo do domingo é tão forte que afeta até uma terça-feira-feriado. Terça é o pior dia para um recesso de meio de semana: você já teve seu domingo, viveu as agruras da segunda e de repente dá de cara com um revival do domingo, um dia deslocado em que não dá pra viajar nem encher a cara até de manhã. Não é um domingo true, o que ajuda bastante - afinal, são só 3 dias até o próximo sábado; mas por outro lado, em vez do Fantástico tem o Casseta & Planeta.

Um feriado solitário na quarta está numa categoria diferente. Você já teve tempo pra se acostumar com as coisas, enfrentou a segunda, já até sorri de novo na terça, e ainda ganha um dia de brinde para descansar e encarar os dois dias que faltam com mais disposição. É diferente de um feriadão de três ou quatro dias, em que a gente se acostuma em acordar às onze da manhã e precisa de um esforço hercúleo pra não se matar na segunda. Um feriado na quarta alivia a barra sem nos deixar acomodados; é tão bem posicionado que você começa a se perguntar porque essa pausa sadia não é adotada oficialmente toda semana.

Geralmente é mais fácil pensar nos dias pela sua posição na semana do que pelo número que ele ocupa no mês. A exceção fica por conta do peculiar intervalo entre o Natal e o Reveillón. Pra mim, depois de 24 de dezembro (que, pelo caráter de véspera, sempre parece sexta) e do 25 de dezembro (domingo sempre, incluindo almoços de família), vem uma sucessão de dias puramente numéricos - 26, 27, 28... - que não guardam relação com seus dias da semana, porque adquirem status de contagem regressiva para o ano-novo. Tudo culmina no 31 de dezembro, sabadão incontestável, que precede o dia mais dominical do ano, branco, vazio e exalando ressaca: o primeiro de janeiro. Só não perde pra Quarta-Feira de Cinzas, segundona braba por excelência. E eu já ia emendar dizendo que festa junina é muito melhor que Carnaval, mas o assunto é longo e fica pra próxima. Que dia era hoje mesmo?

03/06/2009

Tião no Twitter

Somos conservadores e resistimos ferrenhamente às novas ferramentas e tecnologias, mas dessa vez demos uma chance ao Twitter e criamos @sagadetiao. À moda dos websódios de Lost, o filme do Wolverine e os saudosos gibizinhos da Mônica, o Twitter do Tião é um spin-off da saga, contando histórias nunca antes reveladas do pretérito imperfeito dos personagens. O primeiro conto, "O Dia Em Que Tião Aprendeu A Falar", já está sendo narrado por lá.

Acesse ou sua orelha cairá em três dias: www.twitter.com/sagadetiao

E o endereço do blog, que está em sua segunda temporada, com capítulos todas as quartas e sextas: http://sagadetiao.blogspot.com

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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